Por: Giullia Moreira
Respeito e equidade. Essas duas palavras, que parecem simples, são símbolos de luta e reivindicações para as mulheres. Na semana do Dia Internacional da Mulher, as discussões sobre desigualdade de gêneros no mercado de trabalho ganham ainda mais destaque. No último dia 8, o presidente Lula anunciou um pacote de medidas para a garantia de direitos das mulheres, que inclui um projeto de lei que determina a igualdade salarial.
Esta notícia representa um avanço no que tange à busca de equidade no país, que ainda é um desafio a ser vencido. Uma pesquisa realizada pela Organização Internacional do Trabalho revelou que em 2022, 15% das mulheres do mundo todo em idade produtiva não conseguiram emprego. No caso dos homens, essa porcentagem se reduziu para 10,5%.
No Brasil, o último boletim especial do dia da mulher feito pelo Dieese trouxe dados ainda mais alarmantes.
A desproporção no salário de homens e mulheres aumentou consideravelmente, devido aos problemas socioeconômicos advindos pela pandemia. Apenas no terceiro trimestre de 2021, o salário médio feminino foi de R$2. 078,00 já os homens nas mesmas ocupações ganharam o equivalente a R$ 2. 599,00.
Para Camila Leal, jornalista e pesquisadora da área de comunicação e gênero pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação, Cultura e Amazônia (PPGCOM), da UFPA, essas disparidades também envolvem comportamentos sexistas e patriarcais que estão enraizados na sociedade brasileira. “A gente teve uma construção social e uma educação familiar muito machista, que muitas vezes é perpetuada por mulheres também. E quando a gente vai pro trabalho, a gente acaba reproduzindo esses comportamentos no ambiente de trabalho”, explica.
A jornalista Camila Leal integra o programa de Pós-Graduação em Comunicação, Cultura e Amazônia (PPGCOM), da UFPA.
A mestranda comenta ainda que quando uma mulher começa a trabalhar, ela sempre está sujeita a qualquer tipo de assédio. “Isso vem muito com situações de subordinação. E o que é isso? É quando a mulher é desqualificada, é vista como não inteligente, incapaz de liderar, quando ela é julgada pelas vestimentas, cabelo, corpo. A mulher sempre sofre descrédito o tempo todo e tem que se esforçar o dobro do que os homens”, lamenta.
Seja no mundo corporativo, no empreendedorismo e vida autônoma, atitudes machistas são persistentes e afetam diariamente a classe trabalhadora feminina. A ilustradora e administradora Aynan Del-Tetto, de 27 anos, enfrentou na pele situações extremas de assédio moral e quase foi agredida durante seu expediente.
Aynan Del-Tetto, ilustradora e administradora.
“Quando eu iniciei meus trabalhos, eu tinha 21 anos e atuava na administração de um hospital. Era muito comum as pessoas acharem que, por eu ser mulher e ter 21 anos, eu não era apta para exercer a minha função. Eu ouvia de enfermeiros e médicos que eu não estava na posição para falar qualquer coisa. Um dia, um médico tentou me agredir dentro de sala, porque eu apenas cobrei que ele permanecesse dentro de sala e desempenhasse a função dele. Quando eu fiz a denúncia, eu fui silenciada, porque fui movida do meu ambiente de trabalho. Então, é perceptível que não temos respeito e não temos esse tratamento igualitário como gostaríamos”, enfatiza ela.
Em casos como o de Aynan, o desrespeito e abuso podem ter efeitos negativos na vida das trabalhadoras e prejudicam o próprio ambiente de trabalho. A psicóloga Patrícia Rocha, professora da Faculdade Serra Dourada de Lorena, em São Paulo, cita algumas consequências para a vítima e para a corporação onde ela está inserida. “A falta de inclusão e até mesmo a discriminação no trabalho pode causar um impacto no crescimento pessoal e profissional da mulher, afetando diretamente os resultados dela e o alcance dentro daquela organização. E isso pode se aprofundar, causando uma falsa percepção de incompetência, atingindo diretamente a autoestima da mulher. Paralelamente, cria-se um clima desfavorável na companhia para qualquer crescimento e cooperação entre o time”, assegura.
Apesar dos casos de preconceito e machismo dentro do ambiente de trabalho, ainda existem exemplos positivos de inclusão que fazem a diferença. Conceição Bernardo, gerente da área de governança corporativa e administração de imóveis da Albras, atua desde 1985 na empresa e representa como as mulheres têm se destacado no mercado e alcançado cargos de liderança.
Conceição Bernardo, gerente da área de governança corporativa e administração de imóveis da Albras.
“Para resumir a minha carreira, eu vou utilizar os três valores da empresa na qual eu trabalho: cuidado, colaboração e coragem. Eu acho que a minha trajetória, assim como a de outras mulheres, serve de espelho para as mais jovens, aquelas que estão entrando no mercado de trabalho, para que sigam em frente e façam sua história de sucesso também”, diz ela. “Eu entrei no mercado de trabalho no final dos anos oitenta e em um setor que era dominado essencialmente pelos homens, sabe? Então foi muito desafiador, mas me trouxe realizações significativas. ”
A paraense, que adentrou no setor mineral através de uma oportunidade de estágio, acabou se graduando em Direito e decidiu continuar o trabalho na Albras, o que possibilitou o desenvolvimento da sua carreira. “A Albras sempre foi uma empresa de vanguarda nesse aspecto de inclusão.
As mulheres aqui sempre tiveram muito respeito, mas eu tenho muita consciência de que em vários setores ainda há muito para superar. A gente já lutou muito para chegar até aqui e as mulheres estão ainda mais preparadas e determinadas para continuarem conquistando espaços, aonde quer que forem”, finaliza.