Um software que tem como objetivo identificar eventos climáticos extremos e ajudar na projeção de chuvas nas bacias hidrográficas que compõe o Sistema Interligado Nacional (SIN), responsável pela produção e transmissão de energia elétrica do Brasil, é apresentado no X Seminário Brasileiro de Meio Ambiente e Responsabilidade Social do Setor Elétrico (X SMARS), nesta quarta-feira (22), no Rio de Janeiro. Em etapa final de desenvolvimento, o sistema, que recebeu o nome de Climex, vem sendo submetido a testes há 11 meses pela equipe do projeto.
Voltado a orientar o setor elétrico na tomada de decisões em consequência das mudanças climáticas, a ferramenta, que usa os recursos da inteligência artificial, se torna ainda mais relevante em um cenário onde enchentes e secas têm se tornado frequentes. Como 55% da matriz brasileira é atendida pela geração das hidrelétricas, a previsibilidade da produção hídrica proporciona ainda mais conforto para a segurança energética do país.
Durante o desenvolvimento do software, foram acompanhadas análises das 115 bacias hidrográficas afluentes às usinas hidrelétricas que compõem o SIN para caracterizar eventos extremos e realizar projeções dos impactos das mudanças climáticas nessas regiões. A pesquisa foi conduzida pelo Lactec, Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento, sem fins lucrativos, e é resultado de um dos projetos de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PDI) da Norte Energia, concessionária da Usina Hidrelétrica Belo Monte, com regulação da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
“A ferramenta tem condições de contribuir com toda a rede de concessionárias de energia, oferecendo subsídios para análises mais assertivas sobre como os eventos extremos podem afetar o sistema elétrico nacional, trazendo maior previsibilidade e possíveis planos de atuação”, diz o pesquisador João Paulo Jankowski Saboia, responsável pelo estudo.
Metodologia O estudo foi realizado em escala mensal, analisando as bacias. As estimativas de chuva média futuras foram calculadas através de projeções climáticas, que tiveram como base cenários que compõem o Projeto de Intercomparação de Modelos Acoplados (Coupled Model Intercomparison Project). O CMIP é uma estrutura colaborativa do Programa Mundial de Pesquisas Climáticas (World Climate Research Programme), concebida para compartilhar conhecimento sobre o clima.
Segundo o pesquisador João Paulo Jankowski Saboia, o projeto está na fase 6 (CMPI6) e conta com mais de 70 modelos climáticos. “Os diferentes cenários presentes neste programa possuem relação com variadas trajetórias socioeconômicas futuras, que consideram diversas condições de emissões de gases do efeito estufa, desde as mais conservadoras, às mais extremas. Em nosso trabalho, foram escolhidos os cenários de emissão moderada e emissão extrema”, explica ele.
Os resultados dos modelos ajudam a compreender de forma mais precisa o passado e o presente e auxiliam na realização de projeções mais precisas sobre o futuro. No projeto, os pesquisadores usam algumas metodologias, incluindo técnicas de Inteligência Artificial, em particular de Machine Learning, como ferramenta de suporte para uma melhor compreensão dos eventos extremos climáticos. A análise engloba fatores naturais, como os fenômenos El Niño e La Niña, por exemplo, e antrópicos, ou seja, mudanças provocadas pelo ser humano, como no uso do solo e na construção de reservatórios.
Como está sendo realizada a pesquisa?
Com os dados obtidos, foi realizada uma espécie de detalhamento regional, por meio do modelo Weather Research and Forecasting (WRF). A partir daí, foi produzida uma série de acumulados mensais de chuva das áreas pesquisadas. Este procedimento é muito utilizado em estudos climáticos para buscar projeções com um detalhamento espacial maior.
Foram realizadas simulações com dados de 1980 a 2060. Os resultados até 2014 são utilizados para verificar a eficácia dos modelos desta etapa do projeto em reproduzir o passado. Os cenários de projeção começam a ser analisados a partir do ano de 2015 e seguem até 2023.
Segundo o pesquisador, os resultados obtidos servem para entender se algum dos cenários do modelo é capaz reproduzir o comportamento da chuva observada na região neste período. “Os dados do período histórico foram comparados com a série de precipitação mensal produzida pelo modelo. Assim foi confirmada a capacidade de alguns dos modelos do CMIP6 em reproduzir a precipitação”.
A pesquisa intitulada “Caracterização de eventos extremos de precipitação em bacias do SIN e projeções futuras com base em cenários de mudanças climáticas” (PD-07427-0222/2022) segue em curso e será finalizada em janeiro de 2025.