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14 Jun
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Em maio deste ano, o Greenpeace dos Estados Unidos divulgou um estudo alertando para a concepção equivocada de que o plástico reciclado é uma solução sem consequências para o meio ambiente. De acordo com a análise, a reciclagem pode deixar o plástico ainda mais tóxico, elevando os níveis de benzeno e outros carcinógenos, dioxinas bromadas e cloradas, vários desreguladores endócrinos e outras substâncias altamente nocivas ao organismo humano. Vale ressaltar que plásticos ainda não reciclados utilizam mais de 13 mil tipos de produtos químicos na sua produção, dos quais, mais de 3,2 mil são perigosos aos organismos vivos, segundo dados do Programa da ONU para o Meio Ambiente (PNUMA).

Para o químico industrial e professor doutor da Estácio, Ronaldo Magno, a poluição plástica é um passivo ambiental significativo e requer abordagens abrangentes para ser enfrentada. “Embora o plástico reciclado seja uma melhor opção do que o plástico virgem em termos de emissões de gases de efeito estufa e uso de recursos naturais, é importante considerar outros caminhos para amenizar o problema. Uma redução na fonte de consumo seria interessante, e o incentivo por materiais mais sustentáveis, como alternativas biodegradáveis ou reutilizáveis, além de investimentos em inovação, pesquisa e desenvolvimento de materiais alternativos ao plástico, como bioplásticos de fontes renováveis e materiais compostáveis”, detalha.

Alternativa considerada mais eficaz para combater esse problema, o plástico biodegradável ainda apresenta custos de produção mais elevados em comparação ao plástico convencional. Mesmo com o aumento das oportunidades econômicas e a crescente demanda por produtos mais sustentáveis, o desenvolvimento de uma infraestrutura industrial adequada, o suporte governamental e a inovação tecnológica são fundamentais para impulsionar a economia desse tipo de plástico, conforme explica o professor.

Esse tipo de plástico é o resultado de um processo pelo qual os materiais são decompostos e transformados em componentes naturais pela ação de microrganismos, como bactérias e fungos, presentes no meio ambiente, seja no solo, na água ou em condições de compostagem industrial. Ainda na sua produção, ele é formulado com aditivos que aceleram o processo de biodegradação, os quais podem ser compostos por substâncias como amidos, polímeros degradáveis ou materiais de base biológica, que são mais facilmente metabolizados pelos microrganismos.

No entanto, Ronaldo destaca que o comportamento e os efeitos do plástico biodegradável dependem de vários fatores, incluindo o tipo de material utilizado e as condições ambientais em que é descartado. Para solucionar esse problema, o professor frisa a importância de uma regulamentação e padronização global em relação ao plástico biodegradável.

“Esse material geralmente requer condições específicas, como temperatura, umidade e presença de microrganismos para se decompor completamente. Se essas condições não forem atendidas, ele pode persistir no ambiente por um longo tempo. Alguns plásticos biodegradáveis podem deixar resíduos ou fragmentos prejudiciais ao meio ambiente, especialmente se não forem descartados corretamente. Além disso, a contaminação pode ocorrer se o plástico biodegradável for misturado indevidamente com plásticos convencionais em processos de reciclagem”, diz.

Consumo de plástico no Brasil

Dados do Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2022 mostram que o Brasil gerou 64 quilos de resíduos plásticos por pessoa no ano passado, totalizando 13,7 milhões de toneladas. Para o professor, a redução da produção de resíduos plásticos no país requer não apenas a implementação de medidas regulatórias e tecnológicas, mas também uma transformação cultural no padrão de consumo da população.

“É essencial conscientizar a população sobre os impactos negativos do consumo excessivo de plástico e promover hábitos mais sustentáveis. Incentivar financeiramente a população de baixa renda para a adoção de práticas sustentáveis, como descontos em produtos reutilizáveis, isenção de taxas para aquisição de sacolas retornáveis e programas de reciclagem com remuneração, podem ajudar a incentivar a mudança de comportamento”, ressalta.

Outra sugestão é o engajamento com líderes comunitários, pois é uma estratégia eficaz para disseminar informações e influenciar a mudança de comportamento, ainda que ela não ocorra da noite para o dia. “É um processo gradual que requer esforços contínuos e a participação de diferentes setores da sociedade, incluindo governo, empresas, organizações não governamentais e comunidades. Não existe uma solução única para a crise da poluição plástica. Uma combinação de abordagens, incluindo a redução na fonte, a reciclagem eficiente, a inovação de materiais e a mudança de comportamento são necessárias para lidar com esse desafio complexo de maneira mais eficaz”, conclui o especialista.

Perigo invisível

Ainda mais perigosos que os plásticos convencionais, os microplásticos despontam como uma grande e letal ameaça ao planeta. Compostos de pequenas partículas de plástico com tamanho inferior a 5 milímetros (0,2 polegadas), podem ser originados tanto de produtos plásticos que se fragmentam ao longo do tempo, como de microesferas presentes em produtos de cuidados pessoais, ou de partículas de plástico já produzidas em tamanhos reduzidos, como microfibras liberadas durante a lavagem de roupas sintéticas. Os nanoplásticos, por sua vez, são ainda menores, com tamanho inferior a 1 micrômetro (0,001 milímetro).

“Essas partículas de microplásticos e nanoplásticos são encontradas em uma variedade de ambientes, como oceanos, rios, solos, sedimentos, e até mesmo no ar que respiramos. Eles são considerados um problema ambiental crescente devido à sua persistência no meio ambiente e ao potencial de impactos negativos na vida marinha, nos ecossistemas e potencialmente na saúde humana, podendo ser ingeridos por organismos aquáticos, desde plâncton e peixes até aves marinhas e mamíferos marinhos”, acrescenta Ronaldo.

Os impactos dos microplásticos e nanoplásticos no meio ambiente e na saúde humana ainda estão sendo amplamente estudados, mas algumas preocupações levantadas incluem a toxicidade, efeitos na vida marinha e transporte de poluentes.


Por: Thais Siqueira/Agência Eko.

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