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13 Mar
13Mar

Segundo pesquisa realizada pela revista “Ciência & Saúde Coletiva, da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP/Fiocruz), cerca de 80% da enfermagem é composta por mulheres – e um grande número delas é de mulheres negras e pardas. Este contingente expressivo e simbólico é resultado da luta pelos direitos do gênero feminino ao longo de muitos anos e hoje várias enfermeiras ocupam cargos de liderança fundamentais para o desenvolvimento do atendimento na saúde. Gracileide Maia, Enfermeira e coordenadora de Enfermagem do Hospital Regional de Cametá, é um desses exemplos. 

Como coordenadora de Enfermagem de um grande hospital no interior do Pará, Gracileide comenta as particularidades de gerir um time em um local de referência do estado. “Coordenar uma equipe de enfermagem de um hospital no interior do estado tem suas particularidades. O município de Cametá fica do outro lado do rio Tocantins e eu tenho profissionais que atuam aqui no hospital e residem no município de Cametá, porém eu tenho profissionais que residem em outros municípios um pouco mais distantes aqui do município, como Mocajuba, Baião, interior Carapajó, Porto Grande, Oeiras do Pará e Limoeiro do Ajuru. Tenho profissionais que são residentes nesses locais, porém atuam no município de Cametá. Então, enquanto chefe, a gente tem que levar em consideração o aspecto territorial desse profissional”, explica Gracileide. 

De acordo com a enfermeira, um ponto positivo por tratar-se de um hospital do interior do estado, é a população ribeirinha e familiar. “Geralmente todo mundo conhece todo mundo, então isso gera um aspecto mais empático no cuidado. Não que nos grandes centros isso não aconteça, o cuidado precisa acontecer de forma empática em qualquer lugar, mas aqui isso se torna mais perceptível. Esse cuidado por esse aspecto familiar de atender conhecidos”, afirma.

A história de Gracileide com a enfermagem iniciou-se em 2012, quando ela prestou vestibular para a Universidade do Estado do Pará, no campus de Conceição do Araguaia, no sul do Pará. Atuando assistencialmente na enfermagem há quatro anos, a enfermeira continua trabalhando no mesmo local que iniciou a sua prática profissional. No decorrer de sua trajetória, a gestora especializou-se pela Universidade Federal do Pará em “Intervenção, Prevenção e Controle da Violência” e tornou-se mestre na linha de pesquisa sobre saúde pública e epidemiologia de doenças na Amazônia. Apesar disso, a especialista ressalta que outros conhecimentos foram adquiridos por ela na prática.

“Eu costumo dizer que dentro da universidade eles nos preparam para uma pesquisa. A universidade nos prepara para a prática assistencial. Mas para gerenciar pessoas, as universidades ainda não nos preparam. Então isso traz implicações para a sua vida, porque você vai ter que aprender no dia a dia a lidar com outras pessoas da sua mesma categoria. E isso demanda tempo e muita dedicação. Gerenciar outras pessoas em uma instituição hospitalar onde o cuidado é ininterrupto e tem um ritmo frenético, é preciso ficar atento às situações que podem ocorrer e procurar formas e mecanismos para ajudar.

Você acaba agregando outras demandas de uma instituição para si. Você acaba sendo recursos humanos, você acaba dentro da farmácia, você acaba dentro do almoxarifado, da estatística, ambulatório, então o trabalho nunca acaba e exige demais de nós, que também temos a vida pessoal para cuidar”, destaca.

Para a gestora, a enfermagem é protagonista na área da saúde e do mercado de trabalho, a respeito das reivindicações e lutas pela categoria e nas práticas assistenciais, pois ainda há necessidades urgentes a serem resolvidas no setor. “O machismo pra mim nunca foi muito evidente, mas o racismo sim. Eu sou mulher, eu sou negra, então eu acho que o racismo na prática existencial para mim já foi mais perceptível. Já na questão dos salários, existe uma luta da categoria de anos em busca de valorização salarial”, expõe.  

Mesmo reconhecendo os problemas da categoria e os desafios a serem vencidos, Gracileide continua acreditando na beleza da enfermagem, principalmente na Amazônia. “Fazer enfermagem na Amazônia é brilhante porque a Amazônia tem essas particularidades que diferem das demais regiões do Brasil, né? Nós temos doenças com determinado período de incidência maior na Amazônia, doenças que são específicas da região amazônica. Então, acredito que o profissional que trabalha na Amazônia ou que desenvolve estudos voltados para a Amazônia é um profissional diferenciado, porque ele vivencia situações que geralmente as outras regiões do Brasil elas não vivenciam. Fazer enfermagem na Amazônia é isso, é contar com os desafios, com situações que somente a nossa região vai vivenciar, mas isso agrega valor e conhecimento, né? Agrega para a pesquisa, pro mundo acadêmico, pra ciência. Então fazer enfermagem na Amazônia é isso. Ter os desafios econômicos, desafios sociais, os desafios territoriais, mas ainda assim conseguir prestar um cuidado de excelência para a população da nossa região”, finaliza. 

Por: Ascom Coren-PA.

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