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09 Mar
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Por muitos anos, o trabalho de serviço e cuidado à saúde era posto às mulheres unicamente por ser uma tarefa relacionada à submissão, porém com o decorrer das transformações sociais nas últimas décadas a visão sobre a enfermagem e a atuação do gênero feminino no setor felizmente se modificou. As mulheres representam a maioria da população brasileira e no mercado de trabalho não é diferente, inclusive na área da saúde. No mês de março, no qual celebra-se o Dia Internacional da Mulher, o Conselho Regional de Enfermagem (Coren-PA) dá destaque às referências da profissão. 

“A minha história com a enfermagem se iniciou quando eu tinha 16 anos e eu me inscrevi para prestar o vestibular da Universidade do Estado do Pará. Eu não tinha nenhum familiar profissional de enfermagem, mas me recordo de uma feira de profissões em que eu fui no shopping daqui de Belém. Eu morava em Castanhal e, certa vez, a escola organizou um passeio para que os estudantes participassem dessa feira e foi aí que eu tive contato com o curso de enfermagem da UEPA por meio dos acadêmicos de enfermagem”, conta Danielle Cruz, enfermeira e coordenadora do Núcleo de Educação Permanente do Coren-PA. 

No decorrer de sua caminhada profissional, Danielle passou a compreender de forma mais profunda a atuação da enfermagem na saúde, de forma integrada e interdisciplinar. Após sua graduação, a enfermeira trabalhou com docência e tornou-se assessora parlamentar. “Estive também atuando na secretaria de saneamento e lá pra mim se tornou tão latente a discussão da saúde, sob o conceito de ‘saúde única’, que tornou-se fundamental debater saúde com a interlocução com outros segmentos, a exemplo da educação, moradia digna, saneamento básico e assim por diante”, explica ela. 

Com pós-graduação em Gestão em Saúde Pública, especialização em enfermagem oncológica e mestrado em economia na linha de gestão de finanças públicas, Danielle voltou-se para a gestão pública, o que contribuiu para sua atuação, posteriormente, como presidente do Coren-PA durante 6 anos. No entanto, mesmo sendo uma liderança ativa e uma enfermeira capacitada para o cargo, Danielle enfrentou diversas situações machistas durante a construção da carreira. 

“Assumir a presidência do Coren-PA ainda jovem e sendo mãe foi um desafio muito grande. A gente assumir um cargo de gestão sendo mulher e ainda tendo a maternidade junto é desafiador, porque parece que a mãe não pode exercer atividade de decisão ou não pode fazer coisas ao mesmo tempo, como ter a minha filha. Já tive a sala invadida por um homem que tentou me diminuir por ser justamente uma mulher jovem no cargo, a minha competência em diversos momentos foi confrontada. Esses exemplos são superficiais, mas que tenho certeza que muitas colegas já passaram. Já tive também que ouvir de uma autoridade masculina que a gente devia parar de falar muito sobre a mulher… Enfim, sabe aquele momento em que a gente para e não acredita no que está ouvindo. Complicado, né?”, comenta a profissional. 

Segundo a enfermeira e especialista, a luta da enfermagem continua sendo trilhada. Embora o trabalho de cuidado e atenção à saúde seja técnico-científico, a profissão continua ganhando salários baixos, possuem jornadas exaustivas e, no caso das mulheres, lidam com a invisibilidade da sociedade, que não reconhecem as duplas ou triplas jornadas enfrentadas em casa e com a família. Apesar das dificuldades, Danielle continua sendo uma entusiasta da enfermagem. 

“Fazer enfermagem na Amazônia é só para os fortes, porque não é fácil. É necessário muito conhecimento de ancestralidade, de povos tradicionais, indígenas, entre outros, porque muitos dos nossos profissionais prestam assistência, mas eles fazem parte dos territórios também. A gente lida com condições territoriais e geográficas diferentes do que a gente encontra no restante do país, mas é de uma relação de muita força. Eu enxergo uma enfermagem no futuro como uma enfermagem forte, empoderada profissionalmente, valorizada socialmente, com reconhecimento de sua competência técnica e com regulação profissional”, conclui. 

Por: Ascom - Coren-PA.

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