O desafio de ser mãe começa desde a gestação, com as mudanças não apenas físicas, mas mentais. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 20% das mulheres desenvolvem alguma doença mental durante a gravidez ou no pós-parto. A maternidade é um período de sobrecarga e apresenta a necessidade de um cuidado especial às mães, e não somente ao bebê.
O puerpério, espaço de tempo que inicia a partir do nascimento e se estende até 45 dias após o parto, é um período de adaptação à realidade marcado pelas transformações da maternidade. “A mulher sente cansaço ao extremo, insegurança, tende a se isolar nos primeiros dias, sem contar as oscilações hormonais e dificuldades de amamentação. Tudo isso são fatores que podem contribuir no surgimento de algum distúrbio mental. É importante estar atento também se existe histórico familiar de depressão nessa mulher ou na família”, explica a psicóloga do Grupo Hapvida NotreDame Intermédica, Elaine Souza.
Segundo a especialista, a mulher, por muitas vezes, é esquecida dentro da maternidade e acaba acreditando que pode dar conta de tudo. “É um momento que costuma ser vivenciado gerando muitas angustias, medo e culpa. A chegada de uma criança tende a trazer muitas expectativas e alegrias, mas também traz todos esses sentimentos conflitantes, porque é uma fase de muitas mudanças, que vem desde a privação do sono a alterações no próprio corpo. Ela acaba perdendo a referência da sua autoimagem, passa por transformações na vida pessoal, profissional e sexual, devido a perda da libido. Só que, muitas vezes, elas romantizam tudo isso e lidam com a situação sem reclamar, sem pedir ajuda, sem compartilhar o que estão passando”, ressalta Elaine.
Para a psicóloga, reconhecer o sofrimento oculto na maternidade é o primeiro passo para manter uma boa saúde mental. “É preciso validar esses sentimentos e, a partir disso, buscar a ajuda necessária dentro das condições de cada uma. Se for preciso, procure assistência profissional ainda no período da gestação e, já durante esse período, tente organizar uma rede de apoio que possa ser presente, quer sejam familiares, amigos, ou outras pessoas, mas que a ajudem a lidar com esse momento de tanta exigência e sobrecarga. A maternidade é um divisor de águas na vida de uma mulher e não precisa ser vivida de forma pesada. É importante entender que, sim, a maternidade vai trazer muitos desafios e mudanças, mas que você passará por isso lembrando que é só uma fase”, alerta a especialista.
Desafios
Cristiane Souza, mãe de primeira viagem do pequeno Edgar, de um mês e meio, conta que, apesar de ter uma rede de apoio presente, há coisas que somente a mãe pode fazer. “É um grande desafio. No meu caso, minha família ajuda como pode, mas tem momentos em que somente eu posso fazer alguma coisa. As renúncias sempre partem, na maioria das vezes, da mãe. Como é meu primeiro filho, tudo ainda é muito novo para mim. É difícil e lindo ao mesmo tempo, e não estamos acostumados a lidar com isso. Tudo é uma adaptação.”
Um dos maiores desafios, segundo Cristiane, foi a amamentação. “Como tive um parto cesáreo difícil, isso me abalou emocionalmente e, consequentemente, tive dificuldades em amamentar meu filho. Eu sentia muita culpa, principalmente em ver as outras mães no hospital conseguindo amamentar e somente meu filho chorando de fome porque eu não conseguia suprir uma necessidade básica. Isso me sobrecarregou demais”.
As mudanças no bem-estar, na rotina e no corpo ainda são sentidas até hoje pela nova mamãe. “A presença do cansaço, da privação do sono, as diversas mudanças, culminam num estresse, numa falta de paciência e acabam gerando sentimentos conflitantes que nos afetam psicologicamente. Tentar romantizar a maternidade em meio a tudo isso é mais cansativo ainda”, desabafa.
Por: Vanessa Lago / Assessoria Hapvida.